A imprensa noticiou (20) o que grupos de WhatsApp do setor já recebiam como informação: os principais executivos da Mitsui Gás do Brasil, Rogério Soares Leite e Anderson Gil Ramos Bastos, foram demitidos da operação da Mitsui no Brasil sobre a alegação de que a empresa promove uma "reestruturação". Leite fez carreira na Mitsui começando como estagiário em negócios fora do setor de gás, quando virou diretor de participações no momento que a japonesa adquiriu a Gaspart da Enron, grupo estadunidense que faliu após comprovada fraude fiscal. Bastos era empregado da Enron e ficou na Mitsui após a aquisição de parte do setor de distribuição de gás brasileiro.
O Grupo Mitsui Co diversifica seus investimentos em vários continentes do mundo e mais de 70 empresas. Como exemplo é sócia da Toyota; das lojas AM PM por meio do Banco Sumitono; atua na produção e importação de GNL na África, EUA e Rússia etc. No Brasil, possui escritórios na Avenida Paulista (SP) e Praia de Botafogo (RJ), é sócia da Vale Mineradora e além do setor de gás atua em negócios de carga, mobilidade, logística e alimentos (Café Brasileiro).
A entrada e ampliação da presença da Mitsui no setor de distribuição de gás natural brasileiro se deu em dois momentos: em 2005, com a aquisição da Gaspart (US$ 250 milhões) passou a atuar no elo da distribuição alegando experiência nesse negócio na Malásia; e, em 2015, comprou 49% da Gaspetro (R$ 1,9 bilhão) ampliando sua participação em estados brasileiros e no capita social das distribuidoras locais de gás natural.
Com a saída dos dirigentes, que a mídia associa à sucessão na presidência da Vale com o Grupo Cosan apostando em Luiz Henrique Guimarães e o presidente Lula em Guido Mantega, a Mitsui pode estar saindo do setor de distribuição de gás do Brasil. Suas investidas no Norte e Nordeste para ampliar a participação nas distribuidoras provocou reações de empregados públicos e de governos estaduais, que editaram lei que proíbem a venda de ativos do setor para o capital estrangeiro.
Nossa aposta é que esse movimento contribuirá com a concentração do setor de gás natural brasileiro em dois agentes principais: Compass do Grupo Cosan no Sul e Sudeste e a Infra Gás no Norte e Nordeste, com a japonesa se retirando do negócio.
Em Santa Catarina a Mitsui é ré em ação movida pela PGE/SC que questiona a mudança acionária da SCGÁS, quando 17% dos 34% do capital social pertencente ao Governo de Santa Catarina foram transferidos para seus demais sócios (Gaspetro e Mitsui) sem aval da Assembleia Legislativa e com ausência de processo licitatório formal.
A japonesa também foi citada em investigação da Polícia Federal, quando a Petrobras aprovou a construção do primeiro dos navios-sonda pela Mitsui, em negócio que segundo a operação Lava Jato teria envolvido o então diretor da estatal brasileira Nestor Cerveró, o doleiro Fernando Baiano e o lobista Júlio Camargo. A imprensa noticiou também que a Mitsui teria pago propina (US$ 40 milhões) ao ex-presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, pelo contrato de aquisição de navios-sonda.
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